SOZINHA NO JAPÃO - EU, MINHA MALA E MUITA VONTADE
- masf125
- 2 de jan. de 2019
- 6 min de leitura
Atualizado: 19 de fev.

Como essa viagem aconteceu? Digo que fui conquistada pelas histórias, pelas fotos, pelo desafio e por uma passagem barata para o Japão que um dia apareceu na internet. Tinha que decidir rápido, antes que a oferta acabasse. E foi assim que em algumas horas o Japão entrou no meu roteiro. Como não tinha ninguém para ir comigo, tive que comprar aquela passagem sozinha. Não pensei muito, apenas apertei o confirma. Juro que não me senti insegura, apenas muito feliz. O que uma viagem diferente não faz com a nossa cabeça!
Não foi tão loucura assim. Minha filha já havia ido para o Japão e se apaixonado pelo país. E se eu já havia viajado sozinha para outros lugares, por que não para o Japão? Um lugar extremamente seguro e organizado. Dificuldade pela língua eu já tinha tido em outros países. Um dia de vôo não mata ninguém. Não se passa fome em um lugar cheio de lojas de conveniência. O transporte público é farto. Se eu me perder, mesmo com minha mala, estarei a salvo. E, quanto ao preço, não é mais caro que muitos lugares da Europa.

Claro que o planejamento é tudo quando se viaja sozinha e não é nada complicado organizar uma viagem para lá. Rede farta de hotéis e trens cobrindo todos os lugares. Muitos hotéis de redes para aqueles que querem ter segurança do que vão encontrar e você já sai com o passe de trem daqui, o que lhe dá flexibilidade nos deslocamentos.
O vôo realmente é longo. Você tem que se preparar psicologicamente para ele. Foram 14 horas no primeiro e 9 horas no seguinte. Tive sorte de estar viajando com uma boa companhia aérea, com aviões confortáveis e boa alimentação, isso faz muita diferença, principalmente estar bem alimentado. Ambos os vôos tinham muitos brasileiros e muitas mulheres viajando sozinhas para visitarem parentes no Japão. Você não se sente um alienígena. Importante é entre os vôos caminhar bastante e torcer para você conseguir dormir bem neles.
Tendo lido o máximo possível e obtido todas as informações que viajantes anteriores podiam me dar, cheguei lá bem segura do que deveria fazer para me locomover pela cidade e não tive dificuldades para pegar trem e metrô para chegar ao hotel. Ruas planas facilitam arrastar as malas.

A hospedagem no Japão não é muito barata. Preferi os hotéis de rede, que são muitos por lá, para me precaver de surpresas ruins. Apesar de ficar em hotéis mais simples, mesmo quando os quartos eram muito pequenos (eles orientavam guardar a mala debaixo da cama), a limpeza, o conforto e a praticidade dos mesmos eram surpreendentes, os banheiros então, deu vontade de trazer um daqueles sanitários para casa. Não tive o que reclamar de nenhum dos hotéis, a não ser a dificuldade de comunicação, porque mesmo com os funcionários falando inglês, era um inglês que, sinceramente, eu não conseguia entender. E por falar em comunicação, este foi o país em que eu mais tive problemas em relação a isso (quer dizer, antes de ir para a China). Poucos falam inglês e as informações que lhe dão são tão curtas e diretas que você continua perdido. Tive que usar ao máximo meu poder de observação e dedução e muitas vezes fiquei irritada por não haver facilidades para os turistas. Talvez, apesar de todos serem muito educados, eu não tenha me sentido muito acolhida. Isso em nada impediu o bom andamento de minha viagem. Creio que nos hotéis estranharam um pouco eu estar fazendo uma viagem de turismo sozinha mas eu nem me importei de em alguns lugares pensarem que eu estava a trabalho.
Comer é fácil. No almoço aprendi a entrar em restaurantes minúsculos e comer no balcão e à noite passava em uma loja de conveniência e fazia minha refeição no quarto do hotel . Há uma infinidade de lojas de conveniência em todos os lugares com vários tipos de comida. Agora, você tem que apreciar a comida japonesa porque é basicamente a única que você irá encontrar e aprender a só comer com hashi. E, mesmo nos lugares mais simples, a comida japonesa deles é muito melhor que a “nossa” comida japonesa.

O fato de estar viajando em um país muito seguro me deixou tranquila para me deslocar para várias cidades. Os trens são confortáveis e o Japan Rail Pass realmente facilita muito este deslocamento. Todos os meus hotéis eram próximos às estações de trem e não tive dificuldades de acesso. Como a viagem começou e terminou em Tókio, deixei minha mala de bordo lá e só viajei com a mala maior. Obviamente eu estava com um mapa no celular. Sem um mapa com localizador, seria muito difícil eu me achar. Nas cidades, mesmo em Tókio, que impressiona pelo tamanho, você faz tudo com transporte público e de forma bem rápida, apenas monte o seu roteiro para o dia e saia despreocupado. E não estranhe ser o único ocidental em um vagão de metrô.

Notei também que cada cidade tem uma característica de transporte. Fiquei um pouco confusa com os ônibus em Kyoto. Foi difícil entender como o sistema funcionava. Peguei ônibus em sentido errado, não consegui encontrar pontos de ônibus. O jeito foi andar com o mapa dos trajetos na mão e ficar consultando dentro do ônibus, coisa de turista mesmo. Depois de um certo tempo aprendi que a melhor maneira é memorizar tudo: o nome da estação em que você tem que descer, o entorno desta estação para saber como vai voltar, a rua que você anda, alguma referência específica. Em toda a viagem, apenas um dia tive vontade de sentar no chão e chorar. Ao invés disso, procurei na rua alguma senhora japonesa simpática e apontando um mapa perguntei em japonês: onde fica? Por essa você não esperava, decidida a viagem eu usei a internet para aprender um pouco de japonês. Não dá para viajar sozinho sem saber alguma coisa no idioma local. Tive dois momentos tensos, um deles, quando fiquei trancada em um templo e o outro, esse vou fingir que não aconteceu. É difícil viajar e não fazer alguma coisa que de certa forma lhe ponha em algum risco e sobre a qual depois você fala: ainda bem que no final deu tudo certo.

E por falar em sozinha, posso dizer que apesar de muitas noites insones (passei uma semana acordando às três horas da manhã devido à adaptação ao fuso horário, da janela do quarto do hotel eu ficava observando a rua completamente vazia), de encontrar pouquíssimos turistas brasileiros para matar a vontade de falar português, de me sentir invisível muitas vezes quando pedia informações a homens e eles me ignoravam, não me senti nem um pouquinho desconfortável no país. Tive vontade de ficar mais que as quatorze noites de minha viagem. Visitei Tokyo, Takayama, Kyoto e segui até Hiroshima. Conheci lugares ao redor como Niko, Nara, Shirakawa-go e a ilha de Miyajima.


O Japão para mim foi uma descoberta. Tudo me chamou a atenção, o modo diferente de viver e se relacionar com o outro, o grande respeito pelas tradições, a tecnologia, apesar da aceitação restrita ao moderno, e minha introdução ao conhecimento da religião budista e shintoista. Não é um país de grandes construções históricas, de luxos, de museus importantes: é um lugar de paisagens, de simplicidade, rituais. Um lugar em que o seu desafio é o entendimento daquela sociedade. Uma das melhores viagens que eu já fiz. Recomendo.

NOVA VIAGEM
E sabe de uma, voltei para lá em abril/2024. Quis conhecer lugares novos e revisitar outros. Sei que nossas impressões de lugares que visitamos mais de uma vez mudam. Fiquei curiosa em saber como seria este novo encontro com o Japão.
Em alguns anos, o país se encheu de turistas, houve melhora da receptividade e não mais nos sentimos tão estrangeiros por lá. Talvez, por este turismo, em determinados lugares, tenhamos um pouco de dificuldade para perceber aquela essência japonesa que me conquistou tanto, temos que ter um olhar mais atento. E, novamente, o Japão deixou saudades. Vontade de voltar.
Sobre essa viagem, veja o post JAPÃO - O DESTINO DA MODA
JAPÃO - O DESTINO DA MODA
Você foi muito corajosa, gostaria de fazer o mesmo, mas ainda não consigo
Muito interessante e inspirador para mim. Pretendo conhecer mas não tenho uma companhia para ir, pois aos membros da família tem restrições de datas. Eu não. Portanto o melhor é encontrar encorajamento lendo as experiências como as suas e ir em frente.
Obrigada. 🙂
ola, vc tem instagram? planejo ir para o japao em abril de 2024 e gostaria de saber mais dicas!